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A Felicidade ao Alcance de Qualquer Um

A psicologia positiva é um movimento ainda recente dentro da ciência psicológica, nascida em finais dos anos 90, com os contributos de Martin Seligman, então presidente da American Psychological Association, Apa. O seu principal propósito é o estudo das forças humanas, das emoções positivas e do bem estar pessoal. A PP investiga aquilo que torna a vida digna de ser vivida, como o propósito e sentido de vida, o amor, o calor das relações, o humor, a gratidão, a expressão das qualidades de cada um… Um mundo infindável de temas de investigação.

Uma das boas notícias que estas investigações trouxeram é que é possível alterarmos o nosso valor de referência de felicidade, isto é, o valor resultante da conjugação da nossa predisposição genética e das circunstâncias da nossa vida. Sim, é possível progredirmos, habituarmos o nosso cérebro e o nosso corpo a novas atividades e a novas percepções. Isto implica desenvolvermos atividades deliberadas, como aprender coisas novas, atingir objectivos e controlar o que pensamos e sentimos.

Não há uma receita universal de felicidade. Sabemos que ela resulta de um equilíbrio entre duas perspectivas: a hedónica, segundo a qual é determinante a supremacia das emoções positivas sobre as negativas, e a eudaimónica, que tem a ver com o sentido da vida e “doing the right thing”. Nesta última óptica, são os valores, as crenças, os projetos de vida e o compromisso com a ação que importam, ou seja, somos felizes quando fazemos o que para nós tem sentido e é correto. Igualmente importante é a existência de relacionamentos íntimos e recíprocos em que nos possamos expressar. São os denominados relacionamentos positivos.

Assim, uma vida bem vivida não é igual a uma vida sem dor ou sofrimento e isenta de aspectos negativos. O florescimento humano resulta sobretudo de haver um sentido de vida ou de as pessoas desenvolverem atividades, relacionamentos e procura de objetivos intrinsecamente satisfatórios, como por exemplo superar a adversidade ou servir a comunidade através do voluntariado.

É verdade que há mais de 2000 anos filósofos como Epicteto, Marco Aurélio ou Séneca, para só falar do mundo ocidental, já tinham descoberto como cultivar a felicidade ou o bem-estar. O que há de novo agora é que foram efectuados estudos clínicos, estatísticos ou de neuropsicologia sobre o que verdadeiramente funciona. E não é apenas para seres de exceção. Estas práticas são eficazes para quem as aplicar.

As “dicas” que seguidamente damos para aumentar os níveis de felicidade resultam de pesquisas efetuadas e têm efeitos positivos devidamente comprovados sobre o corpo e o bem-estar.

Carpe diem, saboreemos as alegrias da vida, um bom livro, um elogio que nos fizeram no café, o sol da manhã, as diferentes tonalidades de verde à nossa volta, a lambidela do nosso cão ou o batido de morango que acabámos de preparar…

Saber maravilhar-se é uma das chaves da longevidade. O nosso organismo e o nosso cérebro adoram esta emoção.

Cultivemos o optimismo! Churchill dizia que um pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade e o optimista vê a oportunidade em cada dificuldade. O ideal é ter uma atitude flexível e procurar ser um optimista realista, isto é, ter esperança e trabalhar para obter o resultado que desejamos, mas sempre com uma perspectiva realista.

Vivamos simplesmente no aqui e no agora. Façamo-lo sem julgamento e sem preferência, apenas com curiosidade e aceitação. A capacidade de fluir com a vida caracteriza-se por ser um estado de comunhão e desapego em relação ao que nos rodeia. Deixemos pois de nos atormentar com o passado, revivendo-o continuamente, ou de procurar incessantemente controlar o futuro. Evitemos a ruminação. Já Marco Aurélio dizia que somos o que pensamos.

Fixemos objectivos que tenham significado para nós, que resultem de uma escolha intrínseca e não de imposições ou tarefas, e comprometamo-nos com eles. Se não o fizermos andamos a reboque de forças e circunstâncias exteriores que não nos serão tão favoráveis.

Fortaleçamos a resiliência. Olhemos para a adversidade como um conjunto de factos que sucederam e descubramos os padrões de pensamento negativo para os neutralizar, desmontando o nosso pensamento enviesado.

Aprendamos a perdoar, abandonemos o ressentimento que nos envenena a existência. O facto de perdoar tem uma influência benéfica na nossa saúde e bem-estar. Mas, para perdoar aos outros, é necessário perdoarmo-nos primeiro: aceitar a nossa imperfeição, a nossa finitude a nossa humanidade.

Usemos as nossas forças de assinatura e procuremos tirar partido delas, sobretudo das que têm mais ressonância dentro de nós e das que, ao agir, nos fazem sentir mais vivos e com energia.

A positividade expande as nossas perspetivas, alarga o nosso quadro mental e permite-nos perceber a nossa unidade com os outros e com o universo.
Alimentemos as nossas relações, porque, quando nos ligamos positivamente aos outros, sentimo-nos melhor.

Pratiquemos actos de simpatia e generosidade que, além de fazerem bem a quem deles beneficia, aumentam a nossa positividade. Estejamos atentos a estes nossos actos porque é uma forma de nos impulsionarmos a ser cada vez melhores.

A forma mais eficaz de maximizarmos o contentamento é sermos gratos, conscientemente gratos pelas bênçãos recebidas. A gratidão, como dizia Elie Wiezel, sobrevivente do Holocausto, é a memória do coração. Por isso cantemos com a Joan Baez “gracias a la vida que me ha dado tanto…”.

Façamos um esforço para encontrar significado positivo nas nossas atividades diárias, reformulando-as ou descobrindo nelas um valor positivo. Vivamos com significado e propósito, ajudando outros, servindo uma causa ou um propósito maior. Prosseguir uma missão dá sentido à vida, e como dizia, com conhecimento de causa, Viktor Frankl “ os que têm um porquê aguentam qualquer situação”.

E, por fim, não gastemos a nossa energia a avaliar a nossa felicidade atual e nos entristecermos porque ainda não chegámos ao patamar que queremos. Pensemos antes que a felicidade é um recurso ilimitado e procuremos as maneiras para o gastar cada vez mais. (Cardoso, Helena; Torres, Maria do Rosário & Lima, Rosa. Revista SPEM, 31 de Março 2014).

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