Artigos

A Psicologia Hoje

Conhece estas nove variedades das Emoções Positivas?

As evidências neurocientíficas evolucionistas sugerem que não existe um só tipo de emoções.

Edição de Dezembro 21, 2017

Os Psicólogos costumavam pensar nas “emoções positivas” de uma maneira muito simplista:A Felicidade situa-se no pólo oposto de um regular contínuo de infelicidade.
Estar em estado de felicidade associa-se a um conjunto de (por vezes infelizes) consequências, tais como pensamentos simplistas e esteriotipados.

Michelle “Lani”Shiota e os seus colegas discordam. Recentemente, estes investigadores, reavaliaram um enorme acervo de pesquisas – incluindo estudos sobre o comportamento humano, cognição, fisiologia corporal e química cerebral, em animais desde lagostas a macacos rhesus e os seus parentes humanos. Esta investigação levou à publicação na revista “American Psychologist” de um artigo que sugere que a emoção positiva não é apenas uma única manifestação, mas pelo menos nove experiências diferentes que podem ter consequências muito diversas entre o pensamento e a ação.

O Problema com “ as emoções positivas”

Através do ponto de vista mais clássico, ao experienciar uma “emoção positiva”, não se pensa muito sobre isso. Seja o que for que nos tenha levado a ela (emoção) funciona, portanto, porquê ruminar no assunto?
Porém, tal como Griskevicius e Samantha Neufeld, Shiota conduziu um estudo no qual propunha a uma equipa composta por estudantes universitários, usando argumentos convincentes e outros menos convincentes fazerem uma série de exames de interpretação antes de obterem a graduação académica universitária; (tendo em conta que os assuntos sobre os quais iriam ser examinados não eram propriamente entusiasmantes. A reação das pessoas com disposição positiva foi não pensarem demasiado no assunto, desvalorizando por consequência a qualidade dos argumentos. Em vez disso focaram-se apenas no número das justificações que lhe foram apresentadas (portanto para este tipo de pessoas os nove argumentos convincentes tiveram tanto peso como os nove argumentos pouco convincentes). Isto foi o que aconteceu a indivíduos que se sentiam bem dispostos, entusiastas e satisfeitos. Mas o oposto aconteceu, quando os participantes se sentiam intimidados, amedrontados ou em situação/dependência amorosa. Estes participantes foram mais facilmente persuadidos pelos argumentos de “alta qualidade” (tal como seria de esperar de pessoas com disposição negativa).

Funcionalmente, os resultados fazem sentido. Quando se experiência o medo ou temor, a mente fica recetiva a receber nova informação e apta a processá-la cuidadosamente. O mesmo acontece quando se está em estado de situação/dependência amorosa. Um indivíduo em estado de situação/ dependência amorosa se estiver a tomar conta de crianças pequenas ainda sem autonomia, por exemplo, tem tendência a ser bastante cuidadoso no desempenho da tarefa.

Se, pelo contrário, a pessoa se sentir agradavelmente bem, tudo tende a fluir
e qualquer ação comporta em si divertimento.
Agora perguntemo-nos porquê?

A “Nova Árvore” das emoções positivas.

Shiota e os colegas argumentam que todas as emoções positivas partem do mesmo ponto, ou seja, têm todas a mesma origem. Essa origem está num “sistema de recompensa”, que ajudou os nossos antepassados (recuando até antes dos dinossáurios) a procurarem alimentos apetecíveis
Quando algo, geralmente agradável se perfila no horizonte, um acesso de dopamina é lançado no sistema mesolímbico do cérebro produzindo um estado emocional de entusiástica antecipação ou desejo.
Quando o sujeito sente esse estado de emoção positiva, foca a atenção e está mais apto a recordar alguém ou alguma coisa no seu campo de atenção consciente.

Os Ramos

Shiota e os colegas reavaliaram evidências em várias e distintas situações de emoções positivas, ligadas à atividade de neurotransmissores adicionais para além da dopamina.

Orgulho:

As pessoas tendem a sentir orgulho, quando realizam alguma coisa importante e socialmente valorizada. Algo que mereça reconhecimento e represente subida na status social. Shiota e os colegas corroboraram as evidências que ligam a sensação de orgulho à atividade da serotonina e da dopamina. Um estudo esperimental feito por Wai e Bond (2002), descobriu que se se aumentarem os níveis de serotonina aumenta-se os níveis de assertividade e confiança comportamental. Jessica Tracy e os colegas, sugeriram que existe uma tendência crescente de ligar a serotonina com acessos de orgulho e comportamento dominante, nas diversas espécies.

Desejo Sexual:

Esta emoção, obviamente necessária ao sucesso reprodutivo, está associada a padrões de atividades fisiológicas completamente distintas daquelas que se manifestam no sentimento do orgulho. Pesquisas efetuadas em diversas espécies demonstram que a testosterona é a hormona chave no aparecimento do desejo sexual tanto nos machos como nas fêmeas. Não são necessários testes para indução da produção da testosterona nas fêmeas porque esta hormona é produzida nas glândulas supra renais ( Dabbs & Dbbs, 2000).

O Prazer Sensorial, Ligações Amorosas e Gratidão

O orgulho e o desejo sexual são emoções apetitivas, impulsionando-nos à procura ativa daquilo que queremos. Porém, algumas emoções positivas estão mais ligadas à fruição do momento.
Quando se consome algo realmente agradável, como por exemplo, um bolo de chocolate, os mesmos recetores “opioide” tornam-se ativos tal e qual como se fossem estimulados por substâncias tóxicas (drogas); heroína, codeína ou morfina.

Shiota e os colegas obtiveram provas de que os neuro transmissores “opioides” também ajudam a aliviar o desconforto provocado pela rejeição ou separação daqueles de quem se gosta. Este mecanismo também é desencadeado quando se sente gratidão.

Divertimento e Fruição:

De acordo com Shiota e os seus colegas, Experimentamos divertimento quando brincamos. Brincar é divertido e ao mesmo tempo serve também o propósito de pôr em prática algumas capacidades novas, tais como, atirar uma lança ou saber girar um taco de golfe, em situações cujas consequências não são demasiado sérias. ( Já não tem tanta piada se se tiver de enfrentar um leopardo com uma lança ou num torneio de golfe rodeado de excelentes profissionais). Shiota sugere que o divertimento pode envolver maior atividade dos gânglios basais, um grupo de estruturas situadas na parte inferior do córtex cerebral atrás da testa e entre as têmporas, onde existem imensos recetores canabinoides.

Contentamento/Satisfação e Dependência Amorosa:

Quando se acaba de comer um delicioso prato de tagliatelle guarnecido com um excelente molho de carne Bolonhesa, e nos sentimos agradavelmente cheios, a ocitocina ajuda a produzir em nós uma sensação de plenitude – aquilo a que Shiota e os colegas chamam de Contentamento/Satisfação. A Ocitocina tem sido muito propagandeada ultimamente como a “Hormona do Amor” e apesar disto comportar algum exagero, a atividade da ocitocina pode levar-nos a acariciar um bebé como também a admirar-mos o sorriso da pessoa amada. O contentamento também está associado com o “desligar” do sistema de reação “luta-foge” fazendo com que as reações mais pacíficas, mais “Zen” ligadas ao sistema parassimpático se manifestem.

Árvore de Sistema de Recompensa Dopamínico

O que é que NÃO sabemos acerca das emoções positivas?

Shiota e os colegas são muito cuidadosos no desenvolvimento e apresentação dos seus casos. De facto eles incluem uma tabela onde existem muitas evidências para os seus modelos de estudo e onde as especulações apresentadas por estes investigadores necessitam ainda de ser testadas. Enquanto as evidências ainda não estão integradas alguns aspetos dos casos são bastante claros.

A Emoção Positiva não é apenas “uma coisa” sempre igual. O que se passa no nosso cérebro e no nosso corpo quando nos sentimos orgulhosos, divertidos, satisfeitos, dependentes, contentes, sexualmente interessados ou apenas carinhosos para com o objeto do nosso afeto ou amor são experiências diferentes, com implicações diferentes para o que fazemos a seguir.

Shiota e os colegas, terminam com um outro conjunto de questões que ainda necessitam de resposta, e que estão relacionadas com as consequências práticas das distinções que foram apresentadas. Aqui fica uma pergunta interessante: Os Psicoterapeutas focam-se tradicionalmente na redução dos diferentes tipos de emoções negativas, mas podem existir abordagens terapêuticas úteis que se focam essencialmente no aumento dos diferentes tipos de emoções positivas – criando especificamente “à medida” uma emoção positiva para um determinado problema psicológico?

Traduzido para português por Rosa Maria Oliveira, de: Kenrick, Douglas T. (2013) “The Rational Animal: How Evolution Made Us Smarter Than We Think”
Online Website: Sex, Murder videos & book.

Comentários (0)